sábado, 31 de maio de 2008

Estréia

Ok, eu reconheço que estava especialmente provocante. Mas, em minha defesa, tenho a dizer que não estou acostumada a esse tipo de cantada. Naqueles termos, foi, de fato, a primeira vez.

Talvez por isso (“a gente nunca esquece”), essa situação tenha sido decisiva para a criação deste blog: afinal, como eu escrevi na mensagem de apresentação aí ao lado, não é de hoje que venho imaginando textos. Às vezes eu penso num tema, noutras na primeira frase: já teve vez de saírem parágrafos inteirinhos. É claro que, com a memória antielefântica que tenho, pouca coisa dessas idéias passadas vai se salvar. Mas sempre há tempo de resgatar as que estão por vir. Como esta que me ocorreu hoje, que vou retomar antes que me escape.

Eu ia para o trabalho. Tinha pressa. Havia dado uma passadinha no salão para fazer a mão: saí com as unhas Tomate, cor muito em moda, de um vermelho-alaranjado bem chamativo. Andava com as mãos em posição de esmalte-secando - reação instintiva que, descobri, deve estar na carga genética feminina. Sim, porque eu roía unhas desde que me entendo por gente. Até o sabugo. Parei há apenas quatro meses. E minha mãe rói as dela até hoje. Ou seja, ninguém me ensinou isso e, no entanto, lá estava eu, naturalmente, com as mãos em posição de esmalte-secando.

Ele estava em grupo, o que costuma tornar esse tipo de abordagem ainda mais feroz -será o efeito do acúmulo de testosterona, ou o encorajamento que a presença de outros machos traz?
Ele olhou para mim com olhos desejosos. Sentindo o perigo iminente, abaixei o rosto e desviei o olhar, como tentando desencorajá-lo a dizer algo constrangedor. Não adiantou: enquanto eu passava, ele virou a cabeça em minha direção, mirou o amigo com olhar cúmplice, voltou a olhar para mim, abriu a boca e começou:

“Noooossa!...”

O tom de voz era lascivo. Eu me encolhi. A rua estava cheia de gente. Já imaginei o horror: ter que caminhar pelo menos dez longos passos convivendo com senhoras, executivos e mães e família que haviam testemunhado a humilhação que é ser chamada de gostosa ou de coisa muito pior em público. Toda mulher que já passou em frente a uma obra sabe do que eu estou falando.

Mas o que veio a seguir me desestabilizou. Tanto que eu não consegui deixar de dar um sorriso depois de ouvir o que ele disse. E não me entendam mal, eu não estava retribuindo nada. É que por essa eu realmente não esperava.

“... mas que mão bonita, moça!”

Nunca imaginei que um esmalte vermelho pudesse ter esse poder.

Um comentário:

Rackel disse...

HUAuhahuahuahu

Bom saber q vermelho faz sucesso assim! Qq dia vou experimentar tb!!!

bj